quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Alô DOUTORANDOS.....

KD VOCÊS MEU POVO?????????

AOS QUE RETORNARAM, COMO FOI A CHEGADA EM CASA??

AOS QUE FICARAM, PAREM DE PREGUIÇA E FALEM CONOSCO!!!

ABRAÇOS,

FL.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pensamentos

"Eu via uma crise, de poder em alguns momentos, de anarquia em outros, de rupturas de paradigmas em outros, acho que fui e estou sendo infectada com a complexidade de linguagens e identidades doutorais!"
 by  Ivanete Moreira

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Aos amigos do REAMEC/Pará...

Saudades...

Volto pra minha "ilha magnética" com saudades de todos os momentos que vivenciamos juntos no IEMCI. A despedida é algo que dói na alma, mas a caminhada faz parte. O bom da vida é poder ter a oportunidade de conhecer pessoas tão bacanas, e ao mesmo tempo tão especiais, que passam em nossa caminhada. Fico feliz e agradecido a Deus por ter me proporcionado este momento tão significante de minha vida.

Neste momento, quero dizer a todos vocês, colegas e professores, em que pese a saudade de casa, ficará um pouco de tristeza pela partida (temporária) de uma cidade tão acolhedora e bela como é Belém, e de pessoas tão especiais com as quais convivi nestes meses, vocês!

Fiquem com Deus sempre na condução de suas vidas, pois sem Ele não seremos nada, e até uma próxima oportunidade do encontro!!

Abraços Fraternos de um maranhense (gordinho) feliz da vida!!

Fábio Lustosa.

Agradecemos a convivência e serenidade na condução dos trabalhos.

Amado Mestre, Obrigada pelas suas contribuições!

Momentos finais do encontro de fev2011


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

 A obra “Um Discurso sobre as Ciências” é uma das suas principais referências literárias após o discurso “Oração da Sapiência” proferido em Coimbra, Portugal.
 Defende uma posição epistemológica antipositivista das ciências, em face da crise do paradigma moderno, o que passa a chamar de “paradigma emergente” ou “paradigma pós-moderno”.
 Defende que “todo conhecimento é socialmente construído" e que o rigor tem limites inultrapassáveis, e que sua objetividade não implica a sua neutralidade.
 A obra "Um Discurso sobre as Ciências" retrata:
- O Paradigma Dominante
- A Crise do Paradigma Dominante
- O Paradigma Emergente
 Para Boaventura Santos “a modernidade é um projeto complexo rico em novas idéias e capaz de infinitas possibilidades em direção à emancipação da condição humana”.
 Aborda a SUPERAÇÃO da DICOTOMIA existente entre as CIÊNCIAS NATURAIS e as CIÊNCIAS SOCIAIS. Nesta superação ele aborda uma discussão acerca do ser humano, cultura e sociedade, em face da teoria mecanicista.
 Para Boaventura Santos “todo conhecimento científico-natural é científico-social”.
 “TODO CONHECIMENTO É LOCAL E TOTAL”. “A excessiva parcelização e disciplinarização do saber científico faz do cientista um ignorante especializado” . A ênfase do conhecimento no paradigma emergente está na interdisciplinaridade, multidiscilplinaridade e transdisciplinaridade.
 “TODO CONHECIMENTO É AUTOCONHECIMENTO”. Não existe mais uma dicotomia entre sujeito e objeto.
 “TODO CONHECIMENTO CIENTÍFICO VISA CONSTITUIR-SE EM SENSO COMUM”. O conhecimento pós-moderno só se realiza à medida em que visa se constituir em senso comum.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

MICHEL FOUCAULT (1926 – 1984)

  • Foi um filósofo francês que discutiu as relações de poder na sociedade moderna.
  • As relações de poder e de micro poder se dão através da institucionalização de um sistema de leis e punições.
  • O exercício do poder visa à desindividualização, à despersonalização do poder para manter a sua eficácia.
  • O poder está em toda a parte e provém de todos os lugares.
  • É no discurso que se estabelece as relações de poder e saber.
  • Não há saber neutro. Todo saber é político. Todo saber tem sua gênese em relações de poder.
  • O saber funciona na sociedade dotado de poder. É enquanto é saber que tem poder.
  • A verdade é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que o produzem.
  • A verdade é produzida e transmitida sob controle de alguns aparelhos políticos ou econômicos.
  • O poder penetra na vida cotidiana e por isso podendo ser caracterizado como micro-poder ou sub-poder (nivel molecular).
  • As relações de poder do ponto de vista econômico e político visam tornar o homem "útil e dócil".
  • O poder disciplinar está presente em muitas instituições e serve para conformar e fabricar o sujeito.
  • A escola educa e disciplina. Ela disciplina enquanto educa e educa enquanto disciplina.
  • O poder é produto da individualidade. O indivíduo é uma produção do poder e do saber.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Edgar MORIN e a Complexidade...

EDGAR MORIN, francês, nascido em 1921, filho de pais judeus, autoentitula-se como "contrabandista de saberes" e "artesão sem patente registrada", sendo considerado um "divisor de águas" na história do conhecimento científico do século XXI, da mesma forma que Descartes o foi no século XVII, quando inaugurou os fundamentos da ciência moderna. Autor de mais de 50 obras, é em "O Método" (dividido em 5 partes, recheadas de ira, afetos, perplexidades e incertezas) que começa a delinear os fundamentos de uma "Ciência da Complexidade", inspirado pelos escritos de Bachelard e Prigogine, um dos principais predecessores da utilização de tais pensamentos (complexos), e que se baseia numa abordagem transdisciplinar dos fenômenos. Tem como princípios basilares de sua vida a INCERTEZA e a PERPLEXIDADE que permeiam o conhecimento científico e o quotidiano da vida das pessoas. Para Morin, a REFORMA DO PENSAMENTO só é possível a partir de uma "ciência nova", cuja reforma consiste em "por vida nas idéias e as idéias na vida". A verdadeira revolução no ensino acontecerá por intermédio da "religação dos saberes disjuntos" em face da fragmentação e da superespecialização que marcaram as bases da ciência moderna.


 Edgar Nahoun, que mais tarde passou a se chamar de Edgar Morin, nasceu em 8 de julho de 1921, e até hoje tem dificuldades de dizer a sua origem (Grego, Turco ou Espanhol), o que facilita sua atitude transdisciplinar.
 Licenciado em História, Geografia e Direito.
 Auto-entitula-se como um “contrabandista de saberes” ou “artesão sem patente registrada”.
 Transita livremente entre as ciências da vida, do mundo físico e do homem.
 Pretende rejuntar o que o pensamento fragmentado da superespecialização disciplinar fraturou. É a religação dos saberes disjuntos.
 Tem por obsessão a reforma do pensamento, que ocorrerá mediante o surgimento de uma “ciência nova” traduzida em seus manuscritos a partir de 1970.
 Afirma que “a totalidade é a não-verdade” e que a complexidade é movida pela dinâmica da “incompletude”.
 Sem abrir mão da disciplina intelectual e do rigor, Edgar Morin tem por princípios a hipótese do inacabamento da cultura, do sujeito, das idéias e do conhecimento.
 Suas idéias são discutidas em obras abertas como Sociologia, Antropologia, Política, Educação, Cultura, escritos de conjuntura, livros sócioautobiográficos, romances, cinema, imaginário e cultura de massa.
 Faz uma crítica incisiva contra a “burocratização do saber” e a “alta cretinização” que compromete a ciência.
 É um pensador que abriu mão dos confortáveis limites disciplinares para fazer dialogar os conhecimentos, como condição sine qua non para enfrentamento dos desafios deste século.
 Considerado como sendo um “humanista sem fronteiras”, no qual só pode haver “ciência com consciência”.
 Acredita na “reforma da universidade e do ensino fundamental” ao tempo em que expõe as suas incertezas.
 Lança as suas bases de pensamento em uma ética planetária que se inicia na ética individual (auto-ética).
 Para Morin, o pensamento é “um combate com e contra as palavras”.
 Enfatiza o “sujeito cognoscente” e sua relação com as experiências que o constrói.
 De forma recorrente em todos os seus escritos, Morin sublinha as armadilhas do processo de percepção e decodificação do mundo, da informação e dos fenômenos.
 Gaston Bachelard (1884-1962) é o autor que usa pela primeira vez a expressão “complexidade” em sua obra “O novo espírito científico”.
 A complexidade se constrói à medida em que começam a se dissolver os “quatro pilares da certeza” em que se assentava a ciência clássica. Os pilares são: ordem; o princípio da separabilidade; o princípio da redução; e a lógica indutiva-dedutiva-identitária.
 Os quatro pilares são sacudidos pela desordem, pela não-separabilidade, pela não-redutibilidade e pela incerteza lógica, que surgem em face dos avanços ocorridos nas ciências (século XX).
 Acredita que uma sociedade mais justa e igualitária somente será possível por meio de uma nova e complexa compreensão do mundo.
 Aposta nos contextos educacionais (educação para a complexidade) como investimento prioritário para a “Reforma do Pensamento e da Educação” nas obras: “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, “A cabeça bem-feita” e “A religação dos saberes”.
 Vê o mundo como um todo indissociável e propõe uma abordagem multidisciplinar e multirreferenciada para a construção do conhecimento.
 A proposta da complexidade é a abordagem transdisciplinar dos fenômenos, e a mudança de paradigma, abandonando o reducionismos que tem pautado a investigação científica em todos os campos, dando lugar à criatividade e ao caos.
 Distinção, união e incerteza são palavras essenciais da teoria da COMPLEXIDADE.
 Princípio da Simplificação = separar e reunir ; Princípio da Complexidade = reunir e distinguir. O pensamento que separa tem que ser complementado pelo pensamento que une.
 Tetragrama de MORIN (Complexidade) = ORDEM + DESORDEM + INTERAÇÃO + ORGANIZAÇÃO.
 Teoria dos Sistemas afirma que “o todo é, ao mesmo tempo, maior ou menor que a soma das partes”.
 Princípio Hologramático afirma que “o todo está nas partes e as partes estão no todo”
 Ressaltamos a existência do “Grupo de Estudos da Complexidade - GRECOM” na UFRN, e que se destina ao estudo das idéias de Morin e de outros pensadores da complexidade. Edgar Morin visitou nos anos de 1998, 1999 e 2003, recebendo o título de Doutor Honoris Causa.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Matemática e mais...

CAros,

Ter leitura atualizado de quase tudo que ocorre na matemática mundial, este site da Universidade de Coimbra pretende fazer.


Abs,
Osvando

Ilya PRIGOGINE (1917-2003)

PRIGOGINE tem por formação acadêmica a Química, tendo sido, inclusive, premiado com o Nobel de Química (Termodinâmica). Desenvolveu suas idéias no campo da Química, Biologia, Física Clássica e Física Quântica, apregoando o "fim das certezas" científicas, ao questionar o consagrado determinismos das leis naturais e a correspondente inexistência do tempo, considerados alicerces inabaláveis e intangíveis até o romper do século XX.

 Autor da teoria das estruturas dissipativas nos sistemas termodinâmicos, tendo realizado várias pesquisas sobre o tempo e as leis do caos e a natureza.
 Incorpora o papel de reflexão da ciência e da relação que o homem estabelece com a natureza, reforçando o seu caráter incerto (fim das certezas) e evolutivo.
 Traz a discussão, para os sistemas instáveis, da “Flecha do Tempo” cujos conceitos de irreversibilidade e indeterminismo sustentam a sua teoria das estruturas dissipativas, em oposição à mecânica clássica (determinista e reversível).
 Obras: A Nova Aliança (1991), O fim das certezas (1996) e As Leis do Caos (2002).
 “A Ciência precisa passar por uma metamorfose em virtude das relações que o homem precisa estabelecer com a natureza”. A natureza é complexa e infinita marcada por evoluções, crises e instabilidades.
 Dedica-se ao estudo da física do não-equilíbrio que se direciona aos processos irreversíveis da natureza, especialmente as estruturas dissipativas de não-equilíbrio.
 Afirma que a “Flecha do Tempo” nunca surgirá num mundo regido por leis deterministas, negando a existência do passado e do futuro.
 O conceito de ciência é estabelecer o diálogo com a natureza, cujos assuntos e suas soluções são os mais imprevisíveis possível.
 O universo está em evolução, fato que descarta definitivamente a idéia de universo determinista. O mundo é constituído por movimentos irregulares, caóticos.
 Enfatiza a necessidade de fortalecimento de uma postura de pesquisa, onde é necessário abandonar as convicções formalizadas e tidas como verdadeiras e únicas e lançar-se na inquietação de aprender e construir conhecimentos continuadamente.
 “A ciência é um diálogo com a natureza” (Ilya Prigogine)

"O futuro não é dado, que vivemos o fim das certezas, o que torna o universo menos belo aos nossos olhos!" (PRIGOGINE)

“A ciência só se tornará benéfica para a humanidade quando for possível plantar a atitude científica no seio da sociedade, e para isto se tornar real é necessário que os cientistas compreendam melhor os fenômenos que estudam”. (PRIGOGINE)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Paul FEYERABEND

PAUL FEYERABEND, francês, é conhecido como um dos inimigos da ciência, juntamente com Popper, Lakatos e Khun, e isto tudo se deve aos seus escritos anarquistas sobre epistemologia e de seu lema "vale tudo". É um anarquista epistemológico das ciências. Centra suas críticas ao método científico. A temática educação recebe poucas contribuições em seus escritos, ao contrários dos temas sobre filosofia das ciências, mas ressalta-se que tal temática recebeu também forte influência dos escritos de Wittgenstein. Uma característica importante de suas obras está na necessidade das regras como elemento importante para a razão e humanidade do homem.
"o ensino deve ser baseado na curiosidade e não no comando, o "professor" é convidado a promover essa curiosidade e não a confiar em em um único método. A espontaneidade reina suprema, no pensamento (percepção) como também na ação" (FEYERABEND, 1975, p. 187).
...........
"Todos temos direito de sonhar e este direito não pode ser eliminado por uma educação que nos paralisa em lugar de ajudar-nos a desenvolver plenamente o nosso ser" (WITTGENSTEIN)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Thomas Khun e a Química...

As contribuições de Thomas Khun (cuja obra-prima intitula-se "The Structure of Scientific Revolution") para o ensino das ciências estão nas definições dos conceitos de PARADIGMA, CIÊNCIA NORMAL e REVOLUÇÃO CIENTÍFICA.

Segundo Khun, PARADIGMA é...
"conjunto de princípios, regras, valores e conteúdos compartilhados por uma determinada comunidade científica que orienta a produção de saberes científicos e a constituição de um corpus teórico capaz de afirmar o próprio campo".

- O conceito de CIÊNCIA NORMAL para Khun pode ser assim definido como:
"pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas, que são reconhecidas durante algum tempo por uma comunidade científica específica proporcionando os fundamentos para sua prática posterior"
- Quanto à REVOLUÇÃO CIENTÍFICA, Thomas Khun nos diz que se trata de ...
"episódios de desenvolvimento não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo,
incompatível com o anterior".
- Note-se que, no caso da QUÍMICA, tem-se como paradigma khuniano a TEORIA ALQUÍMICA (Alquimia) de Lavoisier (1773), que mais tarde, em função da revolução científica, deu lugar a um novo paradigma preconizado por Isaac Newton.
"Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma" (LAVOISIER)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Biologização do Social

A BIOLOGIZAÇÃO DO SOCIAL[1][2]

ROBERT KURZ[3]
                        O mundo moderno define a relação das antigas sociedades com a natureza como irracional. A noção de que montanhas e rios, animais e plantas possuam alma parece à consciência moderna tão feérica quanto à idéia de que alguém possa ser enfeitiçado pela magia. Max Weber, como se sabe, falou por isso do "desencantamento do mundo" pela razão do Iluminismo, pela racionalidade da ciência e da técnica. Ora, essa contraposição entre racionalidade moderna e irracionalidade pré-moderna no trato com a natureza é por demais simplista. Primeiro, as antigas sociedades não eram de todo irracionais em seu "processo de troca material com a natureza" (Marx), pois afinal tinham de prover seu sustento. Além disso, elas criaram artefatos admiráveis e legaram conhecimentos dos quais os próprios modernos ainda se valem.
                        Segundo, a sociedade moderna não se pauta, por outro lado, pela estrita racionalidade face a objetos naturais. A escala em que o atual modo de produção destrói seus próprios fundamentos naturais de vida nos deixa em dúvida sobre a afirmação de Max Weber. Deveríamos antes nos reportar a um "segundo desencantamento" do mundo pela sociedade moderna. Tal desencantamento, de fato, ultrapassa todos os anteriores, pois sua pretensão mágica é total e inconsiderada. A cisão dos sentimentos, das experiências sensíveis e dos sonhos pela razão abstrata deu origem a uma esfera de "irracionalismo" divorciada dos fins e idéias racionais e isso tanto nos indivíduos como na sociedade em geral. A própria razão abstrata autonomizada é apenas em seus meios racional, não em seu fim. Esse fim é a "economização" do homem e da natureza sob os ditames da moeda, que por sua vez não tem procedência racional, mas mágica. Não somente as relações sociais da modernidade são transpassadas pela moderna magia da moeda e seu irracional fim em si mesmo, mas também a própria ciência e técnica modernas.
                        A racionalidade instrumental da consciência economizada corre portanto o eterno perigo de transformar-se em afetos irracionais. Tal irracionalismo moderno não se dá a conhecer sob a mera roupagem de movimentos religiosos, mas muitas vezes sob a figura racional de idéias políticas de fachada e até mesmo como pretenso conhecimento científico. Essa correlação é expressa da maneira mais nítida quando a sociedade humana e a história são reduzidas a objetos seminaturais. Ora, se a natureza é em si mais do que aparenta ser ao olhar objetivador do cientista natural, o homem também, por sua vez, é mais do que a simples natureza, pois de outro modo ele seria incapaz de concebê-la.
                        O reducionismo das ciências naturais só pode conhecer a natureza unilateralmente; a sociedade humana, todavia, é por ele inteiramente ignorada. A aparente objetividade da racionalidade científica vem a lume como selvagem irracionalismo, tão logo procure dissolver as relações sociais em fatores semifísicos ou semibiológicos. Mas é exatamente a esse reducionismo que tende a ciência moderna. Incapaz de solucionar as questões "metafísicas", ela lançou a filosofia à lata de lixo da história das idéias.
                        O filosófico e revolucionário século 18 ainda arquitetara uma reflexão crítica temerária, no fito de conferir certa legitimação à nascente sociedade capitalista. Já o século 19, como o "século das ciências naturais", buscou por seu turno aparar as garras da teoria social e aplacar a sua mordacidade com doutrinas pseudocientíficas. Numa época de miséria renitente e massificada, urgia emprestar ao capitalismo a dignidade de leis naturais para torná-lo invulnerável e arrebatá-lo ao contexto histórico. Assim, a economia tornou-se a "física" do mercado total e suas supostas leis eternas, e a sociologia passou a conceber a si mesma como a "biologia" das relações sociais, a fim de acobertar as contradições sociais da modernidade sob o manto de necessidades naturais.
                        A concorrência universal entre indivíduos, grupos sociais e nações, do modo como resultou do capitalismo, ganhou cada vez mais uma interpretação biológica com respaldo em tais ideologias "científicas". O conde de Gobineau, diplomata francês, criou as chamadas "raças" da humanidade e elaborou uma teoria sobre suas desigualdades "naturais" evidentemente uma legitimação pseudocientífica do colonialismo europeu, cujo império sobre a população de cor cabia fundamentar com base na pretensa superioridade biológica da "raça branca".
                        Quando Darwin descobriu a história da evolução biológica, sua teoria da seleção natural na "luta pela existência" foi logo transposta à sociedade humana. O próprio Darwin não deixou de tomar partido. Em algumas de suas cartas, ele recriminava o então incipiente movimento sindical, uma vez que suas exigências por solidariedade atravancavam o processo de seleção natural e oneravam a sociedade com espécimes exangues e inaptos à concorrência. Esse darwinismo social mantinha um vínculo obsceno com a "física" do mercado.
                        Ao fim do século 19, somou-se a eles a chamada eugenia ou "higiene racial", que apregoava a transmissão hereditária de qualidades sociais. As camadas inferiores de criminosos e desclassificados ganharam a pecha de homens "hereditariamente inferiores", a quem se devia coibir a reprodução. No reverso da moeda figurava o aclamado "tipo vitorioso" do homem belo, forte e de "herança salutar". Em exposições eugênicas realizadas na Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos, famílias inteiras desfilavam, à maneira de animais de criação, como exemplares de boa cepa e "puro sangue". Nem sequer o movimento operário escapou a tais desatinos. Karl Kautsky, o teórico social-democrata, escreveu com toda candura em prol da "higiene social", e os já remediados operários especializados fundamentavam seu repúdio ao "desleixado lumpemproletariado" com argumentos biológicos e eugênicos.
                        Nesse imbróglio pseudocientífico de ideologias que perpassou toda a sociedade ocidental ao redor da passagem do século ganharam paulatinamente destaque duas imagens sociobiológicas distintas. De um lado, desenvolveu-se um racismo social que infamava pessoas de cor, enfermos, criminosos, incapacitados, maltrapilhos etc. como "homens inferiores". A construção da sociedade industrial cabia com exclusividade a trabalhadores brancos e fortes, e todo "lastro" supérfluo devia ser lançado por terra. Esse irracionalismo malevolente andava de mãos dadas com o menosprezo e a degradação das mulheres, a quem se irrogava certa "imbecilidade fisiológica". De outro lado, começou a grassar um novo anti-semitismo, despido de bases religiosas. "O judeu" foi imaginado como o "super-homem negativo", como uma espécie de príncipe das trevas e o antípoda do níveo príncipe do trabalho. Tal concepção maniqueísta reduziu a perniciosidade e as catástrofes da economia monetária à constituição biológica do "capital financeiro judeu", ao qual o dinheiro "bom" do venerável trabalho branco devia fazer frente.
                        As leis anônimas e a-subjetivas do mercado mundial em expansão foram portanto traduzidas na insensatez da pretensa conjura global de uma "raça estrangeira". Como todos sabem, o nacional-socialismo levou a dúplice ideologia biológica do "homem inferior" e do "super-homem negativo" à consequências extrema da aniquilação em escala industrial. Após os horrores de Auschwitz, ninguém mais desejou comprometer-se com tais idéias, as quais resvalaram então para o segundo plano histórico. No período da grande prosperidade que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, elas lampejavam apenas como espectros de um passado infausto, que se acreditava banido para sempre.
                        As ciências econômica e social, entretanto, foram na verdade depuradas apenas superficialmente da escória conceitual do biologismo e darwinismo sociais. Mais do que nunca, a economia política lançou mão de um tipo de ciência social avessa a "meias-luzes", arvorando-se em ciência seminatural "rigorosa". Enquanto o crescimento e a evolução acenavam com uma perspectiva global de bem-estar, os lêmures do biologismo social permaneceram trancafiados no mundo inferior.
                        Dessa perspectiva, a floração da sociologia crítica e do neomarxismo nos anos 60 e 70 foi ilusória, pois apenas repetia as idéias emancipatórias do passado e se achava incapacitada de sobreviver a períodos de bonança econômica. Quando a crise da economia fez seu regresso, a crítica social de esquerda desapareceu significativamente dos grandes palcos públicos nos países ocidentais. Por essa época, o que estava na berlinda era a teoria do desconstrutivismo pós-moderno calcada em Foucault, que bem convinha à especulação do capitalismo-cassino da era de Reagan e Thatcher. O mundo inclusive o sistema de mercado parecia dissolver-se em "textos" com os quais se podia brincar a bel-prazer. Mas no refúgio da jovial e neurastênica "sociedade do risco", como a batizou o sociólogo alemão Ulrich Beck referindo-se ao desenvolvimento dos anos 80, eclodiram as turbulências de um novo racismo. Desde então, o poder racista alastrou-se por todo mundo numa torrente de excessos sanguinolentos. Também na Alemanha, imigrantes e refugiados foram mortos friamente por maltas de radicais de direita em atentados incendiários. Até hoje, a esfera pública minora tais crimes como a obra de uns poucos jovens desclassificados. Na verdade, porém, o poder racista à solta nas ruas é o prenúncio de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.
                        Nas próprias fábricas de idéias sopram outros ventos. A última década viu o biologismo de uma nova "ciência natural" insinuar-se a passos de lobo no discurso acadêmico, que cada vez mais espelha a herança da moda lúdica e "pós-sociológica" do desconstrutivismo. À primeira vista, tudo indicava que a pesquisa genética conseguiria desbancar os despropósitos racistas com argumentos científicos. Pesquisadores como o geneticista molecular sueco Svante Pããbo provaram que homens das mais diversas nações, em virtude de suas sequências de DNA, podem ser geneticamente mais "aparentados" entre si do que com seus vizinhos de parede-meia. Mas tais constatações curvam-se hoje cada vez mais sob o peso de uma nova biologização da conduta social, para a qual, aliás, os próprios geneticistas se aprestam em fornecer a munição. O neurologista norte-americano Steven Pinker afirma que a língua é "congênita ao homem como a tromba ao elefante", e que por isso deve existir certo "gene gramatical". Para o ganhador do Prêmio Nobel Francis Crick, de San Diego, o próprio livre-arbítrio não passa de "reações neurológicas". Cientistas do Instituto Robert Koch, em Berlim, dizem ter encontrado um vírus que supostamente desencadeia a melancolia e é transmitido por gatos domésticos. E Dean Hammer, biólogo molecular norte-americano, reduz mais uma vez a homossexualidade ao gene Xq28, situado na extremidade do cromossomo sexual X. Trata-se sempre, como só acontecer, de hipóteses não comprovadas que dizem menos da natureza do que da preferência ideológica dos cientistas.
                        Tais estudiosos são muitas vezes ingênuos sob a óptica social e assim talvez não percebam como suas pesquisas "puramente objetivas" sofrem a influência de correntes ideológicas que solapam a sociedade. Escusado observar que a redução da cultura e sociabilidade humanas ao padrão da biologia molecular confere argumentos à legitimação de um barbarismo renovado. Os cientistas sociais norte-americanos Richard Herrnstein e Charles Murray, no estudo intitulado "The Bell Curve", já haviam criado uma correlação entre "raça, genes e QI" que excluía, à maneira pseudobiológica, os negros americanos da "elite cognitiva". Em breve nos brindarão os malfadados cientistas com um "gene de criminalidade" ou um "gene da pobreza".
                        A descoberta de um destino social com lastros genéticos assenta como uma luva à política neoliberal da redução de custos. A nova disciplina acadêmica da "economia medicinal" fornece aos poucos a carta branca para que, por motivos de custos, os pobres, os enfermos e os incapacitados de países ocidentais sejam agraciados com o "auxílio à morte". Debates sobre o tema são propostos em plena luz do dia na Alemanha, na Holanda e em solo escandinavo. O filósofo australiano Peter Singer, cujos avós morreram nos campos de concentração alemães, propugna hoje a tese nacional-socialista de que os recém-nascidos defeituosos sejam imolados como "indignos de vida". Na China atual, tramita um projeto de lei em favor da legalização da eutanásia.
                        A tal brutalização sociodarwinista em escala mundial corresponde uma nova onda de anti-semitismo em todos os quadrantes do globo. Meio século após Auschwitz, sinagogas voltam a ser queimadas na Alemanha; do Atlântico aos Urais e até no Japão, prospera a campanha difamatória contra as comunidades judaicas; e, para rematar, Louis Farrakhan, o líder dos "Black Muslims" nos Estados Unidos, exercita-se na difamação em tiradas anti-semitas. Todos os grupos sociais, inclusive os movimentos de direitos civis, sucumbem cada dia mais a argumentos biológicos na batalha cruenta da concorrência, no propósito de se diferenciarem da humanidade. Sob o influxo da globalização do capital e com base na argumentação acadêmica dos geneticistas, talvez paire sobre nós a ameaça de um biologismo "universalista" que considera todas pessoas ineptas à concorrência dentro da sociedade monetária como "indivíduos inferiores" e que, simultaneamente, deseja imputar as futuras catástrofes da economia de mercado a uma "conjuração judia".
                        O neoliberalismo, com sua pseudofísica ideológica das leis de mercado, soltou as peias de todos os demônios do barbarismo moderno e, assim, remontou à irracionalidade do "cientificismo social" do século 19. A naturalização da economia, porém, acarreta como consequência lógica a bestialização das relações sociais. Os mentores neoliberais não respondem apenas pelo advento do fundamentalismo, mas também pelo atual regresso ao darwinismo social e ao anti-semitismo.



[1] Especial para a Folha : MAIS! Página: 5-7 / Edição: Nacional Jul. 7, 1996
[2] Tradução de José Marcos Macedo.
[3] Robert Kurz é sociólogo e ensaísta alemão, publicou no Brasil, entre outros, ''O Colapso da Modernização'' e ''A Volta do Potenkim'' (Paz e Terra) e é co-editor da revista ''Krisis''.

Bases Epistemológicas da Ciência

Abaixo estão listadas as bibliografia para leitura indicadas pela Profa. Marisa Rosâni Abreu da Silveira:



*Estes arquivos foram gentilmente cedidos por Emerson Gomes.